sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O roubo do livro dos Segredos - 1

1: O Colecionador

“Onde estou?”, perguntou João ao abrir os olhos após um período de inconsciência impossível de ser definido.

Olhou para os lados. Parecia estar em um telhado elevado, em alguma parte de Ilumina. Se levantou e percebeu que estava no edifício mais alto que já havia visto. A cidade abaixo parecia um formigueiro de luzes, buzinas e barulho de trânsito no ar noturno. Imediatamente, chegou à conclusão que não tinha uma torre daquele tamanho na cidade onde morava. Então, ou tinha sido levado para outro centro urbano ou estava sonhando.

“Você estragou tudo novamente”, o repreendeu uma voz familiar.

João se virou. Atrás dele estava Bubastis, observando-o com olhos furiosos e descontentes. O gato siamês se aproximou.

“Tentou se livrar do amuleto e não deu atenção aos seus instintos! Você tem sorte de ainda estar respirando, seu grande idiota!”

“Onde estou?”, repetiu João.

“Em um estado intermediário. Logo, alguém deve te levar de volta à realidade e isso tudo irá parecer um sonho distante. Por isso, preste atenção no que lhe digo: Aceite a transformação, não lute contra ela! Só assim você poderá sobreviver ao que está por vir...”

“O que está por vir? Do que está falando, Bubastis? Por acaso corro algum perigo?”

O gato não respondeu. Ele olhava para os céus.

“Hora de voltar”, anunciou.

Um balde de água fria trouxe João de volta ao mundo dos vivos. Ele quase não percebeu a transição do mundo dos sonhos para a realidade. Mas a água gelada entrou por seus pulmões e fez com que tossisse como um animal. Então percebeu as mãos amarradas por trás de uma cadeira e se deu conta que não havia saídas fáceis daquela situação.

“Bem vindo de volta, meu caro João”, disse uma voz que tinha ouvido apenas uma vez antes, alguns dias atrás.

João colocou os pensamentos em ordem. Lembrou-se da luta que travou com um lobisomem, da derrota e do amuleto que lhe foi tomado. Lembrou-se do homem com a cara enfaixada que levou os problemas até ele. Zé Maria. Ele também fora capturado. Passos lentos, porém constantes, circulavam a cadeira de João. Uma mão levantou seu rosto.

“Por um breve momento pensei que meu amigo Cedric tinha feito mais do que amaciá-lo para mim...”, continuou o homem cuja aparência lembrava um lorde inglês.

“Onde está ele?”, perguntou João sem dar atenção à aura de ameaça que exalava do dono do casarão.

O homem de sorriso maligno se afastou. Ele carregava um cetro em uma das mãos e parecia considerar o que fazer com João e com o outro homem amarrado na cadeira do lado. João se virou e viu Zé Maria. Apesar do rosto enfaixado, ele pensou ver lágrimas escorrerem do rosto do colega, que mantinha a cabeça abaixada, resignado com seu destino.

“Temo que nosso caro detetive recebeu seu pagamento e partiu”, respondeu o homem. “Mas quem somos nós para culpá-lo? Ele cumpriu com suas obrigações de maneira satisfatória...”

O dono do casarão colocou a mão esquerda em um dos bolsos e retirou algo de dentro dele. João reconheceu imediatamente a peça que balançava no ar, a poucos metros da cadeira onde estava. O amuleto do Gatuno.

“Familiar?”, perguntou o homem com ar de triunfo.

“Pode ficar com a maldita peça, se é isso o que quer! Ela não me trouxe nada além de desgraça e horror! E, se pretende me matar, faça isso de uma vez! Estou cansado demais para ficar implorando pela vida!”

“Não!”, gritou Zé Maria se manifestando pela primeira vez desde que João acordou. “Por favor! Não me mate! Sou muito novo para morrer! Tenho a vida toda pela frente! Me deixe viver!”

O dono do casarão bateu com o cetro no rosto de Zé Maria. Um jato de sangue e dois dentes mancharam o chão e as roupas do homem com o rosto enfaixado.

“Silêncio, criatura! Tenha um mínimo de dignidade!”, vociferou o dono do casarão em um acesso de raiva. Então se virou para João e se recompôs. Nada em sua expressão denunciava a animosidade de um momento atrás “Não consigo entender o que alguém como você estava fazendo com um traste desses”, continuou com a voz calma e pausada. “Mas, acho que também não é do meu interesse, não é verdade? Não preciso entendê-los para contratar os seus serviços...”

“Como é que é?”, perguntou João, sem entender nada.

“Perdão, estou me adiantando. Antes de tudo, permita que me apresente. Meu nome é Alberto Phillips Williamson. Mas você e seu amigo podem me chamar de Colecionador, visto que meu hobby nos últimos séculos tem sido recolher peças de valores simbólicos, artísticos e até mesmo mágicos, como você pode atestar com o amuleto que me tomou emprestado por um breve período de tempo. Dito isso, receio que os dois tenham me dado um certo prejuízo durante a última visita que fizeram ao meu lar...”

“Do que está falando? O lobisomem te entregou de volta o amuleto e o dinheiro! Não ficamos com um centavo sequer!”

“Sim, é verdade. Assim como também é verdade que, para conseguir o amuleto, o senhor destruiu algumas relíquias da minha coleção, danificou armaduras antiguíssimas e provocou danos a uma das minhas estátuas preferidas. Meu desejo era torturar os dois até a morte. Mas receio que sejam mão-de-obra boa demais para ser desperdiçada de maneira tão leviana...”
“Então o que quer de nós?”

O Colecionador sorriu.

“Quero que roubem um livro para mim...”

A seguir: João e Zé Maria precisam acertar suas diferenças se quiserem sobreviver ao serviço que o Colecionador lhes passou! Mas, enquanto a dupla se mantem alerta para não levar uma faca nas costas, uma ameaça sobrenatural espreita nas sombras! Confira em uma semana!

4 comentários:

Anônimo disse...

A estória de hoje acabou faltando estória. O Cedric está muito mal explicado.
O Zé Maria além de não acrescentar mais nada aonda é muito chato.
Cadê o próximo episódio????
Aguardo com urgência.

Pablo Amaral Rebello disse...

Tudo será explicado no seu devido tempo. O Cedric ficará de fora dos próximos capítulos, mas retorna em futuros episódios. Já o Zé Maria, é tão fácil odiar o pobre coitado, não é?? Aguarde e confie!!

Anônimo disse...

Não é fácil odiar o Zé Maria não! Eu tenho pena dele, tadinho...

Essa estória foi curtinha, mas gosto do rumo. Parece uma estória dentro da outra, com os mesmos personagens.
Só acho que não será legal se começar a aparecer um mooonte de bichos sobrenaturais, como o Cedric.

Bjos

Anônimo disse...

Recado ao autor:

As publicações deviam ser feitas com mais frequência ou em maior quantidade. Passada uma semana, é fácil esquecer os detalhes do que aconteceu no episódio anterior. Perde um pouco da... vamos dizer...intimidade entre o leitor e a história.