sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Como cães e gatos - 3

3: Visitantes inesperados

João estava desanimado quando entrou no bar Zona Proibida. O ambiente parecia refletir seu estado emocional. Poucos clientes, pouca conversa e uma televisão ligada no mudo. Olhou em volta e não viu nenhum rosto conhecido. Lembrou-se que era segunda-feira e suspirou.

Sentou-se no balcão.

“Uma cerveja, por favor”, pediu.

O barman virou-se, notando a presença do novo freguês pela primeira vez e impressionou-se ao ver quem era.

“João? É você mesmo? Que cara de enterro é essa, cara?”

“Não estou na minha melhor forma, Cachola”, respondeu João levantando a cabeça. “Dia parado?”

“Normal para uma segunda-feira”, respondeu o barman lhe entregando a caneca pedida. “Passou um cara mais cedo atrás de você...”

“Policial?”

“Não. Disse que era da família. Um sujeito engravatado com ar de janota.”

“Daniel”, assentiu João. “Meu primo”, explicou. “Ele não chegou a dizer o que queria comigo, chegou?”

“Não. Só pediu para avisar que está te procurando. Sabe o que pode ser?”

“Nem idéia”, respondeu João.

E não sabia mesmo. Fazia tempo que não conversava com o primo, que tinha acabado de ser contratado como advogado após concluir o curso de Direito. Daniel tinha conhecimento das atividades extracurriculares de João. Mas o recriminava menos que a tia, apesar de não apoiá-lo. Ainda assim, era um dos seus melhores amigos.

“Você não apareceu por aqui ontem. Os garotos estranharam. Sabem que não é de perder um jogo marcado”, comentou o barman mudando de assunto.

“O Círculo Marginal sentiu minha falta? Ou falta do meu dinheiro? Se passarem por aqui, diga que não pude ir porque passei o fim de semana resolvendo uns problemas...”

“Sei...”, continuou o barman. “Quer conversar sobre isso?”

“Sei lá”, respondeu João dando um gole longo de cerveja. “Acho que eu não saberia nem por onde começar, Cachola...”

“Mulher?”, insistiu o barman.

João pensou sobre a pergunta e riu pela primeira vez desde sábado.

“É, acho que posso dizer que tem mulher no meio. E mais de uma!”, respondeu João pensando em Anita, Bast e Sekhmet.

O barman quis saber da história, mas João não tinha como lhe contar a verdade. Então fez uma piada e mudou de assunto. Conversou com Cachola por mais uma hora e meia. Esperou para ver se algum velho conhecido aparecia para tomar uns tragos, só que não apareceu ninguém. João se convenceu que beber não iria ajudar em nada, pagou a conta e decidiu voltar para casa.

A noite caía sobre as ruas de Ilumina enquanto luzes artificiais tentavam afastar a escuridão. No distrito dos Afogados, as trevas predominavam mesmo durante o dia. Diversos postes tinham as lâmpadas quebradas e malandros vendiam drogas para jovens em carros esportes. Pichações se espalhavam pelas paredes e sujeitos com caras de poucos amigos, revólveres visíveis na cintura, andavam pela rua sem preocupações. Não havia um policial à vista por mais de dez quarteirões.

A vizinhança estava em um estado de deterioração desde que João se mudou para lá. Ninguém o incomodava porque todos sabiam que não passava de um ladrão pé de chinelo. Um bandido menor. João se perguntou o que seus vizinhos pensariam se soubessem da fortuna que tinha escondida no apartamento. Provavelmente lhe cortariam a garganta ou dariam um tiro na cara.

Pensamentos animadores. Você realmente está com a bola toda, meu caro, considerou João enquanto tirava as chaves do apartamento do bolso.

Estava distraído e melancólico, com a guarda baixa. Por isso não notou a dupla que se escondia nas escadas até ter acabado de destrancar a fechadura. Só então percebeu um movimento e se virou.

Tarde demais. Um murro o acertou no queixo e fez com que caísse dentro do próprio apartamento.

“Eu não me levantaria se fosse você”, avisou o homem que o acertou adentrando a residência.

João se virou. Um sujeito de sobretudo e aparência selvagem o encarava. Não parecia armado. João decidiu arriscar a sorte. Saltou sobre o inimigo. Dois socos o convenceram de que acabara de cometer um erro. O primeiro o acertou na barriga. O segundo, no rosto. E o bandido foi lançado aos ares com a força do inimigo, caindo sobre a mesa onde estava as pilhas de dinheiro roubadas no sábado. Notas de todas as cores e nacionalidades se espalharam pelo ar.

“Agora olhe a bagunça que você fez...”, reclamou o desconhecido. “Espalhou todo dinheiro do meu cliente!”

João ainda estava meio grogue por causa das pancadas que levara. Não tinha forças para tentar outro ataque. Então observou enquanto o estranho puxava outro homem, que permanecia escondido na escuridão do corredor, e o jogou ao seu lado. O sujeito gemeu levemente ao cair e, apesar das bandagens impedirem qualquer tipo de reconhecimento, o som despertou a memória do bandido.

“Zé Maria?”, perguntou João olhando perplexo para o amigo que o traiu.

O homem por trás das bandagens sorriu com pura maldade.

“Eu trouxe ele aqui...”, revelou Zé Maria com ar de triunfo.

“Vocês dois, arrumem essa bagunça”, ordenou o homem de sobretudo fechando a porta do apartamento. “E façam isso em silêncio. Não queremos chamar a atenção dos vizinhos, queremos?”

“Quem é você? O que quer de mim?”, exigiu João sem se mover.

“Meu nome é Cedric Lobato. Sou detetive particular. Isso é tudo que vocês precisam saber sobre mim, acreditem. E o que eu quero é acabar com esse serviço o quanto antes para retomar a minha vida. Para isso, é melhor vocês recolherem esse dinheiro o mais rápido possível sem gastar meu tempo com perguntas inúteis. Portanto, ao trabalho!”

“Te contrataram por conta do roubo de sábado então”, concluiu João. “É só o dinheiro que querem?”

O homem de sobretudo acendia um cigarro.

“Não...”, admitiu.

“O que mais seu cliente pediu para levar de volta para ele?”

“Você parece um cara esperto. Mais esperto do que seu colega com cara de múmia, pelo menos. Tenho certeza de que pode descobrir o que meu cliente quer sozinho...”

“O amuleto?”, perguntou João.

“O amuleto!”, respondeu o detetive.

E nossas vidas, pensou João sem esperança.

A seguir: A situação se complica e João toma medidas desesperadas! Contudo, o detetive Cedric revela ter mais cartas guardadas na manga do que se poderia imaginar!

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei!!Tá curtinho, mas tá bom! =)
beijooos