quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O retorno da magia - 1

1: Os truques do Corvo Negro

Há muito tempo, um bruxo mais poderoso do que ele o nomeou como Corvo Negro. Na época, não passava de um adolescente louco para conhecer os segredos da magia negra. Séculos se passaram desde então. Ele cresceu, ficou mais poderoso que seu mestre, e viu o mundo mudar diante de seus olhos.

As criaturas mágicas de outrora encontraram seu fim com o surgimento de uma nova magia mais poderosa e influente do que a delas. Uma magia que o homem nomeou de ciência, e que estendeu seus tentáculos através de todo globo. Não demorou para a razão tomar o lugar do sobrenatural. E, durante muito tempo, o Corvo Negro pensou que assistia o fim de tudo que lhe era mais precioso.

Mas ele foi um dos poucos que sobreviveu à diáspora. Seu mestre caiu. Outros seres mais poderosos que ele também. Seus poderes ficaram mais fracos, ele envelheceu, mas manteve uma antiga fagulha dos velhos tempos viva em seu peito. Uma fagulha mantida por um pacto feito séculos atrás. Após tanto tempo, ele pensou que nada mais pudesse impressioná-lo. Até o surgimento de um homem tocado e abençoado pelos deuses. Um homem chamado Gatuno que, naquele momento, se livrava dos grilhões que o prendiam e exalava selvageria.

“Hora de pagar os pecados, meu velho”, grunhiu a criatura de aspecto felino diante dele..

O Corvo Negro gritou. Não estava preparado para aquilo. A transformação o pegara de surpresa. Se ao menos tivesse um momento para conjurar um feitiço...

Gatuno avançou, garra elevada sobre a cabeça, preparada para desferir um golpe mortal. Mas parou na metade do caminho ao mesmo tempo em que o outro prisioneiro, um homem com as faces envoltas em bandagens, gritou. Gatuno olhou para o punho e viu o bracelete dourado reluzir. E viu mais. Viu uma fina corrente invisível que o unia ao outro prisioneiro.

“Algemas mágicas”, murmurou Gatuno para o ar.

Era o momento que o Corvo Negro precisava. Rápido como uma cobra, ele saiu da linha de ataque da criatura e conjurou um feitiço o mais rápido que conseguiu.

“Você não escapará de mim tão facilmente velho”, avisou Gatuno ao perceber as intenções sombrias do oponente. “Me livrar desses grilhões levará apenas um segundo...”

“Um segundo é tudo do que preciso, tolo”, respondeu o Corvo Negro.

Gatuno arrancou o bracelete com a mão livre. Zé Maria gritou de dor, como se o golpe tivesse rasgado sua própria carne, e desmaiou. O homem felino não pareceu registrar a dor do prisioneiro. Tinha a atenção totalmente voltada para uma criatura feita de gás verde fosforescente que entrou no recinto. Seu lado humano lembrou-se do encontro com a criatura misteriosa antes. O mago queria nocauteá-lo.

“Isso não vai funcionar dessa vez”, alertou Gatuno.

Mesmo assim, a criatura investiu contra ele. O gás o cercando por completo até que Gatuno desaparecesse dentro da nuvem esverdeada. O Corvo Negro assistia ao espetáculo escondido atrás de uma pedra. Fazia tempo que não via um espécime mágico tão magnífico. Apesar do medo de encontrar o fim nas mãos da criatura, se perguntou qual seria o significado de sua vinda. O que isso representava para a magia na Terra. E também torcia para que seu servo gasoso conseguisse deter o inimigo.

Mas então, a fumaça esverdeada que envolvia Gatuno começou a desaparecer. A princípio, o Corvo Negro não entendeu o que estava acontecendo. Então percebeu que a criatura estava aspirando todo o ser gasoso para dentro de si e prendendo-o nos pulmões.

Quando a tarefa estava completa, Gatuno estudou o ambiente de peito estufado em busca de algo. O mago não demorou para perceber a intenção da criatura.

“Não!”, gritou em desespero.

Mas era tarde demais. Gatuno soprou a criatura gasosa presa nos pulmões para as chamas que ardiam em um suporte de aço. O contato da fumaça verde com o fogo causou uma reação explosiva. A criatura literalmente foi feita em milhares de pedaços flamejantes que se espalharam pelo calabouço, atando fogo a tudo inflamável que tocava.

Apesar do barulho e da onda de choque provocada pela explosão, Gatuno se mantinha firme no centro do calabouço, desafiador. Ele se virou novamente para o mago.

“Isso é o melhor que tem a oferecer, velho?”

“Maldito demônio”, xingou Corvo Negro, levantando-se. “Posso estar velho, mas ainda tenho algumas cartas nas mangas!”

“Isso é o que vamos ver”, gritou Gatuno saltando para cima do inimigo.

Ele caiu sobre o Corvo Negro como um tigre faminto. Mas suas garras rasgaram apenas o tecido negro do manto que o mago usava. No último momento possível, o velho desapareceu em pleno ar e, no seu lugar, uma ave negra alçou vôo.

“Eu sabia!”, clamou o corvo pousando sobre uma viga intocada pelo fogo. “Eu sabia! A velha magia voltou! Agora que sei disso, posso sentir o poder queimar dentro de mim novamente! A fagulha se acendeu! Ainda estou fraco, mas logo voltarei à velha forma! Não sei o motivo disso, mas também não interessa! É hora de pagar pelo que me fez, criatura!”

“Palavras”, rugiu Gatuno jogando o manto rasgado do mago sobre o fogo que queimava uma mesa, alimentando-o. “Para mim você não passa de um pássaro! E você sabe o que os gatos fazem com pássaros...”

“Para isso, você tem que me pegar primeiro!”

Gatuno rugiu e saltou para cima da viga. O corvo alçou vôo e escapou das garras inimigas. Gatuno se agarrou no pedaço de madeira e se posicionou no telhado, pronto para um novo salto.

“Essa é a minha casa, bichano! O meu lugar de poder! Acha mesmo que pode me derrotar dentro desse calabouço?”

Gatuno olhou ao redor em busca do pássaro. Mas tudo que podia ver eram esqueletos pendurados. Esqueletos rapidamente envolvidos por uma estranha luz azulada. Os olhos de Gatuno dilataram-se. Os mortos se mexiam, se livravam das correntes que os seguravam e olhavam para ele com cavidades orbitais tão profundas quanto o abismo.

“Adivinhe quem irá pagar pelos pecados agora, sabichão?”

A seguir: Gatuno enfrenta um exército de zumbis enquanto o Corvo Negro prepara sua próxima investida! Zé Maria confronta a criatura que o desfigurou! E o fogo ameaça a todos consumir! Em uma semana!

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