quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O roubo do livro dos Segredos - 3

3: Prisioneiros no calabouço do Corvo Negro

O relógio na parede do casarão do Colecionador fazia tic tac, tic tac, tic tac.

Sentado no escritório em meio à escuridão, ele observava o objeto pendurado em um suporte cinco metros à frente. O ponteiro do relógio saltou uma casa. Outro minuto passou. Ele se aproximava cada vez mais do número doze. Logo o gongo da meia-noite iria soar. O Colecionador não tinha pressa. Fixava o olhar no amuleto de Gatuno e aguardava, impassível.

Enquanto isso, João recobrava a consciência em um lugar quente, úmido e fétido. Ele percebeu que estava preso novamente. Dessa vez, no que parecia ser uma plataforma de tortura. Na frente dele estava Zé Maria, ainda desmaiado. O ambiente era iluminado por tochas e havia esqueletos e corpos terrivelmente decompostos pendurados por correntes no teto. Dezenas deles. Armas medievais também estavam penduradas nas paredes. O ar era pesado e o calor, semelhante a uma fornalha.

“Bem vindo de volta...”, pronunciou uma voz asquerosa com uma pequena risada.

João se virou na direção do som e viu um velho quase careca, com longos fios brancos e finos a lhe caírem pelos ombros, o observar por trás de olhos de vidro. O velho vestia um manto negro e tinha as costas encurvadas. Locomovia-se com ajuda de um bastão de madeira e parecia estar sempre sorrindo.

“Seu amigo também está acordado”, disse apontando para Zé Maria, que permanecia com a cabeça caída. “Ele pensa que, se eu achar que ainda está dormindo, nada de ruim vai lhe acontecer”, o velho riu da tolice. “E você, meu caro? Pensa que é seguro fingir inconsciência também?”

João cuspiu no chão em resposta. Estava cansado de acordar preso diante de alguém que se achava mais esperto do que ele.

“Ah, vejo que ainda arde uma flama no peito deste aqui”, continuou o velho se aproximando de João. “Será que pode me falar, então, o que os dois patetas faziam em meus domínios, hein?”

João não respondeu. O velho se virou de costas e pegou alguma coisa.

“Talvez quisessem dar uma olhada nisso aqui?”, perguntou mostrando o livro dos Segredos. “É um livro de muitas utilidades, eu sei. Talvez vocês quisessem descobrir onde está escondido o tesouro secreto de Hitler? Ou saber o que fazer para conquistar uma atriz famosa? O número da conta do presidente da República? Não?”

“Por mim você pode queimar esse livro e jogar as cinzas no lixo”, respondeu João. “Você nos capturou! Estamos à sua mercê! E, para te falar a verdade, não estou com paciência para ter essa conversa de novo! Se quer nos matar, faça isso de uma vez!”

“Mas onde estaria a graça nisso?”, questionou o velho, se divertindo com o nervosismo do prisioneiro. “Não se preocupe. Garanto que os dois vão morrer. Mas, antes disso, deixem esse velho bruxo se divertir um pouco, ok? Faz tempo que não recebo visitas...”

Então, como era de se esperar, Zé Maria se pronunciou mostrando que não estava nem um pouco inconsciente.

“Não! Por favor, não me mate! Sou jovem! Não tenho filhos, mas ainda posso ser pai de família! Tenho a vida toda pela frente! Me deixe viver! Por favor!”

O velho olhou para Zé Maria e de volta para João, que deu de ombros. Zé Maria continuava a suplicar pela vida.

“Ele é sensível à palavra morte...”, explicou João.

“Você, por outro lado, parece não temer o fim. Me pergunto por quê?”

João não respondeu. O velho se aproximou, o examinando de perto. Ele colocou óculos semelhantes ao usado por soldadores e pareceu enxergar alguma coisa, pois se afastou com uma expressão de surpresa.

“Você foi tocado pelos deuses, meu garoto”, disse o velho enfim. “Fazia tempos que não via alguém como você! Séculos, na verdade! Isso é muito divertido! E, curioso...”

O velho se afastou de João com uma expressão pensativa. Foi parar em algum lugar atrás da plataforma onde estava preso. Zé Maria ainda chorava e parecia ter sujado as calças.

“Você ainda não nos disse seu nome...”, convidou João.

“Não?”, perguntou o velho aparecendo subitamente na linha de visão do bandido. Ele carregava um ferro com a ponta fumegante em uma das mãos. “É, acho que estou ficando velho mesmo. Pode me chamar de Corvo Negro, garoto! Sou um bruxo à moda antiga. E sei quem mandou vocês para me roubar.”

“Sabe?”, inquiriu João curioso.

O Colecionador tinha colocado um feitiço nele e em Zé Maria para que nenhum dos dois pudesse revelar quem os tinha contratado no caso de captura.

“Claro que sim! O que o Colecionador pensa que sou? Um tolo? Quem mais teria poder para fazer algemas tão sofisticadas quanto as que vocês estão usando? Estou certo, não estou?”

“Eu não saberia dizer...”, respondeu João.

“Sim, um feitiço de silêncio também está dentro das capacidades dele. Não faz mal. Sempre soube do interesse do Colecionador pelo livro dos Segredos. O espertinho já tentou me comprar ele umas duzentas vezes, sem sucesso. Mas, o que me impressiona, é ele me mandar dois incompetentes como vocês para fazer o serviço sujo. Quer dizer, do que te serviu ser tocado pelos deuses, garoto? Será que algum deles vai me impedir de te torturar agora?”

“Faça o seu pior”, disse João, desafiador.

O velho sorriu. “Vamos ver como vai estar essa bravura dentro de alguns minutos, o que acha?”

O velho se aproximava com a ponta alaranjada da barra de ferro em brasa. João podia sentir o calor emanado da arma. Grilhões de aço prendiam suas mãos e pés. Não tinha nada que o ajudasse a sair daquela situação. O medo começava a atacar seus nervos. O velho ria como um louco enquanto aproximava cada vez mais a ponta da barra da pele do prisioneiro. Zé Maria assistia a tudo com uma expressão de horror.

Então, por um momento, João se lembrou das palavras de Bubastis em um sonho recente. Aceite a transformação, não lute contra ela. Só assim você sobreviverá o que está por vir. A mente de João trabalhava freneticamente. Ele se lembrou de lançar o amuleto no fundo do Lago Serafim apenas para encontrá-lo na cômoda do apartamento onde morava. Se perguntou se seria capaz de invocar o amuleto naquela situação. João fechou os olhos. A barra de ferro a menos de dez centímetros de sua pele.

No casarão na rua Barões do Cerrado, o Colecionador fitava a peça esverdeada presa a um suporte. O relógio na parede fazia tic tac, tic tac, tic tac. O ponteiro dos minutos andou mais uma casa. Então, um brilho pareceu emanar brevemente do amuleto, que tremeluziu no ar e desapareceu por completo. O Colecionador sorriu.

A seguir: João clama pelo seu lado mais selvagem para salvar a própria vida! Mas, ao fazê-lo, ele pode acabar se deparando com um perigo maior do que imagina! E uma deusa se manifesta novamente! Tudo isso e mais no próximo capítulo do Roubo do livro dos Segredos!

3 comentários:

Anônimo disse...

Cara!!! porque vc. nao escreve um livro sobre o gatuno??
Aposto que iria ser um bestseller...
abracos..

Pablo Amaral Rebello disse...

Quem sabe? É uma idéia. As histórias, ao menos, já estão registradas. Mas por enquanto vou testando o material aqui na internet mesmo e conto com a ajuda de vocês para divulgar as aventuras do Gatuno para amigos e conhecidos!
Abs

Anônimo disse...

Agora acoisa está ficando boa. Continua neste ruma