quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A marca do Gatuno - 2

2: O plano

Rua Barões do Cerrado. Dia seguinte.

O molho de tomate escorreu do cachorro-quente para a camisa de Zé Maria, que condenou o azar com um rosto enfezado. João sorriu e devorou o que restava do cachorro-quente que tinha em mãos. Do outro lado da rua, estava uma enorme mansão de estilo vitoriano com uma loja de antiguidades construída no térreo

“O dono desse lugar é obviamente louco”, comentou João para o amigo, que ainda tentava limpar o estrago na camisa.

“Mas endinheirado pra caramba! E é isso que nos interessa!”, emendou Zé Maria.

“Tem certeza de que quer levar isso adiante?”

“Claro que sim! Já discutimos isso ontem! Só não entendo o que nos adianta vir aqui hoje...”

“Você não espera que eu vá roubar um magnata sem estudar o terreno antes, não é? Vai que ele tem algum tipo de defesa secreta que teu camarada esqueceu de mencionar ou que não conhece?”

“Bobagens. O lance é seguro. Mas, se quer realmente conferir, como pretende fazer isso?”

“Ora”, respondeu João com um leve sorriso. “Entrando pela porta da frente, é claro!”

“Espere, você não...”

Mas João não esperou o colega completar a frase. Atravessou a rua com passos rápidos e adentrou a loja de antiguidades.

Lá dentro, se deparou com um lugar repleto de todo tipo de quinquilharia. Estátuas de madeira de deuses primitivos, bolas de cristal, revistas velhas e até roupas de gente famosa enfeitavam as prateleiras. Todos objetos marcados com tarjas de preços astronômicos. Uma senhora estudava muito seriamente uma escultura que se assemalhava a um pigmeu muito excitado.
João segurou o riso e fingiu ser apenas mais um cliente enquanto estudava o ambiente. Um velhinho corcunda de longos bigodes brancos era o único funcionário da loja, que realmente não demonstrava possuir nenhum tipo de vigilância ou alarmes eletrônicos.

João aproveitou enquanto o velho conversava com alguns clientes e adentrou silenciosamente um corredor escuro, ao lado do balcão. Logo, estava dentro da mansão e ficou impressionado com o tamanho do lugar.

Um sátiro de mármore branco ocupava o salão principal, elevando-se até o terceiro andar da residência. A estátua estava disposta de tal modo que encarava quem quer que subisse pela escada espiralada com um sorriso diabólico e ameaçador. João seguiu até o último andar e logo achou o escritório do dono da casa.

Após conferir a existência do cofre e chegar à conclusão de que o trabalho era muito mais fácil que roubar doce de criança, começou a refazer os passos de volta à loja de antiquidades. Mas parou na metade do caminho, atraído por uma imagem que viu por uma porta entreaberta.

Ali, no meio de um salão repleto de objetos tão ou mais esquisitos do que os vendidos na loja, estava um medalhão esverdeado talhado no formato de uma cabeça de gato. João não conseguia entender, mas sentiu uma atração especial pelo objeto. Estava tão hipnotizado pela peça que não percebeu a aproximação de um senhor vestido como um lorde inglês.

“Quem é você? O que faz nos meus domínios?”, questionou o estranho homem.

João se virou, sobressaltado. O homem o observava com olhos maléficos e inquisidores. João sorriu com desenvoltura.

“Perdão, me perdi a procura do banheiro. Não vai acontecer novamente.”

Antes que o homem pudesse responder, João desceu as escadas. O homem o seguiu.

“Aonde pensa que vai? Volte aqui imediatamente!”, chamou ele várias vezes.

João não deu atenção e saiu pelo mesmo local por onde tinha entrado com passos apressados. Do outro lado da rua, Zé Maria o esperava agitado. “O que aconteceu? Ele te viu?”

“Não se preocupe. Não foi nada demais. Vamos embora daqui”, respondeu João apressadamente.
Ao olhar para trás, ele viu o estranho parado nas portas do estabelecimento. Os olhos fixos em João, que lhe deu as costas e partiu sem dar atenção ao estranho calafrio que percorreu sua espinha por um segundo.

Mais tarde, no apartamento de João, os dois assaltantes planejaram os últimos passos a serem dados no assalto. Apesar do encontro esquisito no casarão, João estava animado. Mas ainda com dúvidas a respeito da participação de Zé Maria.

“Tem certeza de que...”

“Quantas vezes vai me fazer a mesma pergunta?”, cortou Zé Maria irritado. “A idéia foi minha, eu te coloquei no serviço, claro que tenho certeza do que estou fazendo!”

“Mas você não precisa participar do assalto em si, se não quiser. Somos amigos, sabe que pode confiar em mim. Vou te dar a sua parte.”

“Não me faça favores. Vou te dar cobertura para ter certeza de que nada sairá errado. Estou preparado. Pode confiar.”

“Como assim?”

Zé Maria resmungou e retirou uma pistola automática que estava escondida na cintura, debaixo da camisa.

“Cobertura! Vou garantir que ninguém atrapalhe nosso serviço!”

“Você está ficando louco?”, perguntou João em um súbito acesso de fúria.

Ele arrancou a arma da mão do amigo com um golpe rápido.

“Sou ladrão, não assassino! Não trabalho com armas e nem com quem esteja disposto a usá-las! Se quiser levar esse projeto adiante é bom colocar isso dentro da tua cabeça vazia, entendeu?”

Zé Maria fez uma cara de poucos amigos, mas assentiu. “Tudo bem”, respondeu. “Mas ainda vou acompanhá-lo no assalto...”

“Faça o que achar melhor!”, rebateu João sem paciência.

Ele voltou-se para o mapa que tinha feito da casa, sem perceber o olhar de ressentimento do amigo ao pegar a arma de volta.

Tinha um trabalho a fazer. Os preparativos estavam prontos e o prognóstico era favorável. Ele sorriu com a perspectiva de colocar as mãos na fortuna que o aguardava no casarão desprotegido. Tudo a risco quase zero. Ele só não sabia ainda que aquela história terminaria em sangue...

A seguir: Os bandidos entram em ação! Mas as coisas não saem como o esperado e a morte espreita na escuridão! Tudo isso e muito mais no próximo capítulo da origem do Gatuno! Em uma semana!

9 comentários:

Unknown disse...

O capítulo foi muito curto, queremos capítulos maiores. Não enrola.
Fora isso, está tudo muito bom.

Mário Coelho disse...

Bom, Pablito, bom. Mas como o colega aí disse, capítulos maiores, por favor.
Abs

Pablo Amaral Rebello disse...

O tamanho dos capítulos varia de acordo com a extensão das cenas. Tem umas maiores, outras menores. Também não quero deixar um calhamaço de texto no blog que afugente possíveis leitores. Mas espero que o próximo capítulo seja do aguardo de todos.
Abs

DiogoPDS disse...

bacana cara, to esperando o proximo capitulo...
abraco

Unknown disse...

Boa Pablera!
Tá excelente e escreve capítulos curtos mesmo pra gerar ansiedade e expectativa no leitor. Melhor ser conciso que ficar enchendo linguiça mesmo.
Abraço.

Fisioterapia Veterinária disse...

que semana longaaaaaaaaaaaa essa sua. hahahahahahah Nas minhas contas já passaram 7 dias. Cadeeeeeeeeeeeeeee?????????? ehheheheeh abraços e tá legal até agora.

Anônimo disse...

Cadê meu comentário que estava aqui??

Pablo Amaral Rebello disse...

Ops, não apareceu nada na moderação. Mal aí. Não sei o que rolou...

Anônimo disse...

Bela construção. Fotografa bem o momento displicente desses aloprados.Parabéns.
""O molho de tomate escorreu do cachorro-quente para a camisa de Zé Maria, que condenou o azar com um rosto enfezado. João sorriu e devorou o que restava do cachorro-quente que tinha em mãos. Do outro lado da rua, estava uma enorme mansão de estilo vitoriano com uma loja de antiguidades construída no térreo""